quinta-feira, 5 de março de 2015

Absoluta necessidade, memória de verdades e razões concebidas

Não há memória suficiente que lembre, nem memória insuficiente que esqueça… A verdade é esta: não há como explicar aquilo que queremos esquecer e não conseguimos e, aquilo que tanto queremos recordar e não nos vem à memória.
Na verdade, deixemo-nos de tretas, até tem uma explicação simples: não esquecemos porque recordamos vezes sem conta para ter a certeza que queremos esquecer e que, ainda não fizemos por muito que digamos que é o queremos. Quanto mais dizemos que queremos apagar, na realidade, estamos a recordar o "porquê" e o" quê" que queremos apagar.
Esta é a minha verdade... Depois há a verdade deles e a verdade verdadeira.... Vá-se lá saber afinal qual é a realidade da verdade. Enquanto existirem muitas verdades, nunca conseguiremos provar que detemos a verdadeira realidade. Que ela pertence a nós e não ao outro. Queres saber mais? Também existe uma explicação para isso, também muito simples, se virmos bem: a forma como interpreto, será a forma como darei sentido à história e aí, terei a minha verdade, a verdade que eu atribuí por entender daquela forma, ter a minha perspectiva sobre aquela situação.
O outro dominará a sua razão pela forma como entendeu, que terá certos momentos em que não irá coincidir, por muito que me dê razão, ou mesmo a detenha. Por muito que as historias possam coincidir, a verdade estará nas mãos de duas pessoas, para no culminar de tudo, haver uma meia verdade que vai abranger as perspectivas dos dois e criar a verdadeira realidade. Mas isso bastará para ser considerada a verdade?
Gostava eu de ter resposta para isso e muito mais… Gostava eu…!
É com tudo isto, que me vem à cabeça a memória, razão e verdade de grandes conclusões a que já era suposto ter chegado. Conclusões que me fizeram entender que percebi, percebo e, se há coisa que continuarei a perceber,  pelas belas palavras de Vinicius de Moraes, é a amizade:

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, 
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, 
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
 E eu poderia suportar, embora não sem dor, 
que tivessem morrido todos os meus amores, 
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !
 Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos 
e o quanto minha vida depende de suas existências ... 
 A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. 
 Mas, porque não os procuro com assiduidade, 
não posso lhes dizer o quanto gosto deles. 
Eles não iriam acreditar. 
 Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. 
 Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, 
embora não declare e não os procure. 
 Eàs vezes, quando os procuro, 
noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, 
porque eles fazem parte do mundo que eu, 
tremulamente, construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
 Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
 E me envergonho, porque essa minha prece é, 
em síntese, dirigida ao meu bem estar. 
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
 Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece 
é que a roda furiosa da vida 
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo, 
falando comigo, vivendo comigo, 
todos os meus amigos, e, principalmente, 
os que só desconfiam 
- ou talvez nunca vão saber -
que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.”

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