Não há memória
suficiente que lembre, nem memória insuficiente que esqueça… A verdade é esta: não há como explicar aquilo que queremos esquecer e não conseguimos e, aquilo
que tanto queremos recordar e não nos vem à memória.
Na verdade,
deixemo-nos de tretas, até tem uma explicação simples: não esquecemos porque
recordamos vezes sem conta para ter a certeza que queremos esquecer e que,
ainda não fizemos por muito que digamos que é o queremos. Quanto mais dizemos que queremos apagar, na realidade, estamos a recordar o "porquê" e o" quê" que
queremos apagar.
Esta é a minha
verdade... Depois há a verdade deles e a verdade verdadeira.... Vá-se lá saber
afinal qual é a realidade da verdade. Enquanto existirem muitas verdades, nunca
conseguiremos provar que detemos a verdadeira realidade. Que ela pertence a nós
e não ao outro. Queres saber mais? Também existe uma explicação para isso,
também muito simples, se virmos bem: a forma como interpreto, será a forma como
darei sentido à história e aí, terei a minha verdade, a verdade que eu atribuí por entender daquela forma, ter a minha perspectiva sobre aquela situação.
O outro
dominará a sua razão pela forma como entendeu, que terá certos momentos em que
não irá coincidir, por muito que me dê razão, ou mesmo a detenha. Por muito que
as historias possam coincidir, a verdade estará nas mãos de duas pessoas, para
no culminar de tudo, haver uma meia verdade que vai abranger as perspectivas
dos dois e criar a verdadeira realidade. Mas isso bastará para ser considerada
a verdade?
Gostava eu de
ter resposta para isso e muito mais… Gostava eu…!
É com tudo isto, que me vem à cabeça a memória, razão e verdade de grandes conclusões a que já era suposto ter
chegado. Conclusões que me fizeram entender que percebi,
percebo e, se há coisa que continuarei a perceber, pelas
belas palavras de Vinicius de Moraes, é a amizade:
“Tenho amigos
que não sabem o quanto são meus amigos.
e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o
amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros
afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite
a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus
amigos
e o quanto minha vida depende de suas existências
...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles
existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela
vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus
amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os
adoro,
embora não declare e não os procure.
Eàs vezes, quando os procuro,
noto que eles não tem noção de como me são
necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio
vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida
deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é,
em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo,
falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só desconfiam
- ou talvez nunca vão saber -
que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.”
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